A COR DA ROMÃ

Joga no abismo aquilo que tens mais pesado!

Homem, esquece! Homem, esquece!
Divina é a arte de esquecer!
Se sabes elevar-te,
Se queres estar em casa nas alturas,
Joga no mar aquilo que tens de mais pesado!
eis o mar, joga-te no mar
Divina é a arte de esquecer

Nietzsche

sábado, 3 de dezembro de 2011


Manoel de Barros - O LIVRO DAS IGNORÂNÇAS

2.5


Mas, para um sonhador de coisas, haverá “naturezas mortas”? As coisas que foram humanas podem ser indiferentes? As coisas que foram nomeadas não revivem no devaneio do seu nome? Tudo depende da sensibilidade sonhadora do sonhador. Chesterton escreve: “As coisas mortas têm tal poder de apoderar-se do espírito vivo que eu me pergunto se é possível a alguém ler o catálogo de um leilão sem cair sobre coisas que, bruscamente apreendidas, fariam correr lágrimas elementares.”
Só o devaneio pode despertar essa sensibilidade. Dispersas nos leilões, oferecidas a qualquer comprador, as coisas, as doces coisas, reencontrarão cada qual o seu sonhador? Um bom escritor da Champagne, Grosley, diz que sua avó, quando não sabia responder às suas perguntas de criança, dizia:
Deixe estar, quando você crescer, verá que existem muitas coisas num coisário.
BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p.159-160.